O heroísmo inesperado

Foto: Marcos Ribolli


           Neste domingo, 19, Santos e Palmeiras se enfrentaram na Vila Belmiro, pelo Campeonato Paulista. O dono da casa vinha de um início de temporada meio irregular, cambaleando entre as competições. Fora, é claro, o mau desempenho nos clássicos no ano vigente. E do outro lado, víamos um Palmeiras intrigante. Também sofrendo com irregularidades na temporada, vindo de uma vitória absurdamente sofrida pela Libertadores e um desempenho em clássicos de difícil definição.
                Times em campo, a bola começou a rolar. E logo de início se via um Santos afiado e com muita vontade de fazer gol. E o Palmeiras seguia seguro na defesa, e atacava de forma pragmática. E chegou bem próximo do gol após falha boba de Lucas Veríssimo no confronto a Dudu. A bola chegou até Borja, dentro da área, que acabou se chocando com o goleiro Vladimir. Este chegou a receber atendimento médico pelo ocorrido.
                O jogo era claramente disputado e tenso. O famoso “lá e cá”, que ficou ainda mais quente quando Felipe Melo atingiu Lucas Lima com um carrinho, de forma completamente desnecessária. O volante palmeirense recebeu cartão amarelo. E, não muito depois, Vitor Bueno perdeu um gol inacreditável. Em mais um bom avanço de Bruno Henrique pela esquerda, o cruzamento é desviado por Mina. A bola sobra para o jogador santista a não muitos centímetros do gol, e fora do alcance de Fernando Prass. Vitor erra, e não executa a finalização. Isso tudo havia ocorrido em menos de 19 minutos de jogo.
Vitor Bueno perdendo gol inacreditável. 
                A partida assim se seguiu por muito tempo. Ricardo Oliveira acertou a trave superior, pelo lado do Santos. E o Palmeiras obrigou Valdimir a fazer ótimas defesas para manter o placar zerado, antes do intervalo. Isso muito por conta de Guerra, que fizera uma partida surpreendentemente boa. O Palmeiras era realmente melhor em campo.
                No segundo tempo, Alejandro Guerra não estava mais em campo. Zé Roberto foi deslocado para o meio e Egídio encaixado na lateral esquerda. Péssima alteração, pois esta ação permitiu a Vitor Bueno que avançasse pelo flanco direito de seu ataque frequentemente. Quem comandava as ações do jogo já era, novamente, o Santos, como no início da primeira etapa. Os donos da casa chegavam cada vez mais perto do gol, mas um empecilho era o suficiente para que não ficassem perto o suficiente. O goleiro Fernando Prass, que andava desacreditado até por palmeirenses, estava absurdo. Fantástico, espetacular, defendia absolutamente tudo que tentava adentrar as redes palmeirenses.
Mas, por capricho, a invulnerabilidade do gol palmeirense não se manteve para sempre. Em ataque pelo lado direito, Vitor Ferrar cruza. O cabeceio que ocorre seria defendido corriqueiramente por Prass, provavelmente. Mas Jean interfere e desvia a trajetória da bola. O objetivo sobra, pertinho da linha do gol, com o goleiro caído e nenhum marcador por perto. Para os pés dele, Ricardo Oliveira. O cruel carrasco palmeirense de sempre abria o marcador em um jogo onde o empate era a previsão mais óbvia. Talvez os palmeirenses nem acreditassem. De novo ele marcara no Clássico da Saudade. De novo o alviverde perderia na Vila Belmiro, até pelo fato de já estar aos 30 minutos rodados da 2° etapa.
Ricardo Oliveira comemorando mais um gol contra o Palmeiras.
Mas isso não ocorreu. Tudo por conta de Róger Guedes. O ponta direita extremamente contestado pelos palmeirenses, principalmente após o elenco se tornar um exército avassalador. Ele entrara no lugar de Keno, que conseguiu incomodar a defesa santista mais do que Dudu, até. Apresentar algo superior ao do ex-Santa Cruz não seria fácil. Mas Róger o fez. 10 minutos após o fatídico gol santista, ele já fez a diferença. Recebeu de Jean e lançou o lateral, para o mesmo se redimir, pode-se dizer assim. Jean chutou cruzado, quase na linha de fundo, e Vladimir espalmou, mas não espalmou o suficiente. Lá estava o empate palmeirense.
Jean comemorando o gol de empate.
E sequer deu tempo dos santistas lamentarem o gol. Sentirem aquele incômodo de não estar mais à frente do placar. 2 míseros minutos depois, o Palmeiras vira o jogo. Graças a Guedes, sem qualquer sombra de dúvida. O habilidoso jogador dribla lindamente o lateral Zeca, com o famoso “drible da vaca”. E já adentrado na área, cruza. O cruzamento tinha ido para Borja. O colombiano certamente desviaria e faria o gol da vitória. Acontecimento que os palmeirenses amariam, de fato. Mas o cruzamento é caprichosamente espanado pela defesa, e muda por alguns centímetros, a trajetória. O objeto redondo sobra nas melhores condições possíveis para Willian. O atacante que não conseguia, de forma alguma, se firmar na equipe palmeirense. Ele que, assim como Róger Guedes, saiu do banco durante a partida. E ali estava a bola, dentro da pequena área. No ângulo mais que perfeito para um destro como ele bater. E Willian simplesmente o fez. Finalizou com afinco, jogando o corpo para frente, e virando a partida. A essa altura já estávamos aos 43 minutos do segundo tempo. A vitória alviverde era inevitável. Por mais que ela tenha surgido do nada.
Ainda tivemos as fortes provocações de Felipe Melo. Até mesmo nas entrevistas o volante não deixou passar, tanto que afirmou que a Vila Belmiro não caracterizava um furacão. E, pelo clima, era perfeitamente compreensível ele proferir aquilo. O Palmeiras ganhara o jogo fantasticamente. Como que por mágica. Róger Guedes, o simplório operário da frente ofensiva palmeirense de 2016, decidira o jogo. E praticamente sozinho. O heroísmo que ocorreu em campo não foi dos melhores para simbolizar. E, muito menos, foi previsível. 
Willian, o herói da virada, comemorando o gol. 

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